- Soyuz TMA-8,
todos os sistemas prontos para lançamento!
- Contagem em T-2 minutos.
Assim começou a missão
que levou a bandeira do Brasil ao espaço pela primeira
vez. Foram dez dias de trabalho intenso. Riscos, sofrimento,
felicidade, admiração, descobertas, imagens,
sons, sentimento, Brasil.
Dez dias que mudaram o nosso programa espacial. Seus projetos
foram conhecidos. Sua importância estratégica
foi ressaltada. Um evento histórico que mostrou a capacidade
do nosso país. Abriu possibilidades para empresas brasileiras
no exterior. Possibilidades de novos empregos, mais bem estar
e dignidade para trabalhadores.
Nossos cientistas foram elogiados pelos países ditos
desenvolvidos. Eles foram verdadeiros profissionais. Idealizaram
experimentos, vibraram, construíram, testaram, analisaram,
tivemos resultados definitivamente positivos. Entre esses
resultados, hoje em dia, já temos qualificados, por
exemplo, sistemas nacionais de controle de temperatura de
satélites. Hoje sabemos mais sobre o comportamento
do DNA no espaço. Hoje temos, aberto, um caminho novo
para pesquisas no Brasil.
Trabalhamos também com o futuro, nossos jovens. Nenhum
programa terá sucesso se não for através
das pessoas. Precisamos desesperadamente de recursos humanos
qualificados e motivados. Precisamos de profissionais jovens
que encarem o desafio de levar a frente os anseios e os ideais
da nação rumo ao espaço. Pessoas que
levantem essa bandeira estratégica para o país.
Hoje temos, graças à Missão Centenário
criada pela Agência Espacial Brasileira, milhões
de brasileirinhos motivados para assumir essa batalha. Todos
aqueles que realmente têm visão e amor pelo Brasil,
obviamente sabem da importância de se plantar essas
sementes. Se houvesse qualquer dúvida dessa importância,
bastaria comparar com os países que já fazem
isso há muito mais tempo.
Santos Dumont também foi lembrado pelo mundo. Cem anos
depois de seu vôo pioneiro para a aviação,
a Missão Centenário foi o maior evento internacional
comemorativo do seu feito.
Nesse exato momento, há exatamente um ano atrás,
eu estava a bordo da Estação Espacial Internacional
em órbita do Planeta Azul. Olhava de lá de cima
para esta Terra tão sofrida. Contemplava a sua beleza
e pensava o quanto nós, seres humanos, ainda precisamos
aprender para conviver em paz com esse planeta e com as nossas
próprias diferenças. Imaginava a mão
do Criador, idealizador de todo esse universo maravilhoso.
Ficava perplexo ao pensar que existem pessoas mesquinhas,
falsas e aproveitadoras. Imaginava suas vidas compassadas
por um coração amargurado e arrastadas pesadamente
para um final solitário, fundo e triste. Pensava que
desperdício de tempo que representam suas atitudes
perante a única chance de vida dada por Deus. Lamentava
por elas. Orava para que fossem iluminadas.
Olhava para estrelas cintilantes na imensidão negra.
O sol nascia a cada 45 minutos no centro do arco colorido
sobre a curvatura da Terra. Renascia a esperança. Há
uma chance. Depende de cada um de nós. Podemos ser
muito mais, humanos. Podemos aprender mais, cantar mais, viver
mais, amar mais, dançar, olhar para o mar, sentir,
sorrir, educar, cuidar do futuro. Podemos olhar para o céu.
Podemos olhar para dentro de nós. Podemos ser felizes.
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |